A INTOLERÂNCIA E OS CONFLITOS ATUAIS
- Luís Fernando R. Marques
- 11 de nov. de 2016
- 4 min de leitura
Esse foi o título de meu primeiro trabalho na Ordem DeMolay, alguns meses após a minha entrada, em 2005. Na ocasião, a referência era feita aos conflitos existentes no Oriente Médio. Tentei encontrar o texto que escrevi, para poder me recordar melhor de qual foi o sentimento, mas não tive sucesso. De qualquer forma, o pouco que recordo me traz o sentimento de que essa intolerância parecia algo muito distante da minha realidade. Lembro até de ter dito durante a apresentação que me sentia feliz por não enxergar tal sentimento incutido na sociedade brasileira. Nessa época, com 14 anos, ou as coisas eram muito diferentes ou eu simplesmente não conseguia enxergá-las. Fato é que nas últimas semanas esse título voltou várias vezes em minha cabeça devido a alguns acontecimentos. Vou tentar contextualizá-los melhor nas linhas que se seguem.
Antes, uma breve retrospectiva para que o assunto faça sentido na cabeça daqueles que não me conheciam há alguns anos. Vou usar uma situação específica para rapidamente fazer isso. 2014, ano das eleições presidenciais no Brasil. Na época, não pude votar no primeiro turno, mas meu candidato seria o Eduardo Jorge (PV). No segundo turno eu pude viajar para a cidade onde votava e acabei optando por dar meu voto ao candidato Aécio Neves (PSDB). Não satisfeito com isso, ainda o defendi nas redes sociais e nas mesas de buteco, utilizando argumentos que ao invés de elevá-lo a uma posição de candidato exemplar (o que na verdade seria bem difícil) visavam tão somente o desmerecimento da candidata Dilma Roussef (PT), de seu partido e da esquerda. Alguns meses após a eleição, eu me formei, comecei a trabalhar com saúde pública, fiz alguns cursos de desenvolvimento pessoal que me abriram a mente e passei por várias experiências pessoais, de forma que eu me permitisse ler livros com ideologias diferentes às minhas, assistir filmes que me apresentassem um novo ponto de vista, etc. No entanto, isso não quer dizer que eu sofri uma lavagem cerebral, eu apenas descobri que era possível escutar opiniões contrárias às minhas sem que me sentisse ofendido e discordar do próximo sem ofendê-lo. Hoje me sinto envergonhado não por ter apoiado o Aécio, pois o fiz de acordo com o que achava correto na época, mas pela forma como o fiz, atacando a sua adversária e não sendo capaz de enxergar algo além daquilo que eu queria.
Pronto! Cheguei ao ponto de intercessão entre a intolerância, os conflitos no Oriente Médio e o que quero trazer para você que está lendo esse texto: o fanatismo. Segundo o Aurélio, esse termo faz referência à "adesão cega a um sistema ou doutrina". Isso pode ser percebido em pequena escala em meu exemplo das eleições, em grande escala nos conflitos religiosos do Oriente Médio e em escala cada vez maior na sociedade moderna. Vou usar um acontecimento bem recente para desenvolver o meu raciocínio: a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA. Candidatos como ele sempre existiram e sempre vão existir e isso só acontece porque outras pessoas compartilham das mesmas ideias. A sua candidatura não é um problema em si, o que de fato é preocupante é que o número de pessoas que o apoia se tornou suficiente para elegê-lo para o cargo mais importante do planeta! Eleitores esses que apoiam que as mulheres sejam tratadas como objetos, que consideram o latino estuprador e/ou ladrão, que imaginam que convicções religiosas são suficientes para se sentirem superiores aos demais (entre outras coisas).
Mas não sejamos simplistas ao analisar essa situação. Trump não é a doença, mas apenas um sintoma de uma sociedade doente. E esse adoecimento não aconteceu da noite para o dia! Estamos vendo isso acontecendo gradualmente no Brasil e não temos feito nada que impeça o seu avanço! Exemplo disso são a intolerância crescente às minorias pregadas por candidatos da extrema direita, como Marco Feliciano (ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias), Jair Bolsonaro (deputado federal mais votado no Estado do Rio de Janeiro) e Marcelo Crivella (eleito prefeito do RJ mesmo com a notável superioridade em todos os quesitos de seu opositor). Em contrapartida, o esquerdismo tem respondido na mesma ignorância e intolerância, se fechando ao diálogo e agredindo as pessoas que se posicionam de forma diferente, conforme tenho observado, mesmo que de longe, nos movimentos estudantis de ocupação das Universidades Federais.
Há alguns meses ocorreram as eleições municipais e vimos mais do mesmo. Candidatos se atacando nas campanhas, incapazes de estabelecer o diálogo e reconstruindo o velho discurso "nós x eles", onde eu estou do lado certo e você do lado errado. Como se não fôssemos todos do mesmo time, todos cidadãos do mesmo Brasil que se encontra em estado caótico e totalmente perdido, sem lideranças capazes de tomar a dianteira e assumir a postura de conciliação. Líderes esses que sejam tolerantes às críticas, que saibam aprender com seu adversário e absorver as boas propostas apresentadas por eles, que tenham propostas que incluam as pessoas ao invés de excluí-las, que estejam dispostos a servir aos seus eleitores e não a serem servidos por eles. Sim, uma visão totalmente romântica que gostaria que muitas outras pessoas compartilhassem, pois já estou cansado desse desinteresse e ceticismo que tomaram conta das relações de uma forma geral.
Acredito que nesse ponto eu tenha transmitido o que eu queria dizer. O único problema é que as pessoas que realmente precisavam ler isso não passaram do título. O que para mim reforça que não temos visto pessoas dispostas a se libertarem desse antolho. São pessoas fanáticas. Missionários de sua causa, de sua verdade, de sua intolerância. E, como já cantava o Biquini Cavadão, "Missionários de um mundo pagão, proliferando ódio e destruição pelos quatro cantos da terra. A morte, a discórdia, a ganância e a guerra". Que sejamos capazes de parar essa cascata antes que atinja o resultado final da guerra!

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