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APOSENTADORIA, CHAPECOENSE E O AGORA

  • Luís Fernando R. Marques
  • 7 de dez. de 2016
  • 3 min de leitura

Estava eu lendo as notícias nessa noite de plantão de sobreaviso, torcendo para nenhuma gestante resolver dar a luz e eu ter que ir para o hospital auxiliar na cesárea, quando me deparo com uma reportagem falando sobre o aumento da idade mínima para aposentar. Resolvi escrever algo a respeito e daí minha cabeça já fez associação da aposentadoria com outros temas sobre os quais eu já pretendia refletir. Mas a primeira ideia que veio à minha cabeça foi: "Putz, só vai dar pra ser feliz aos 70 anos se continuar assim!" Foi automático. Um pensamento fruto de crenças limitantes que dizem que temos que trabalhar, trabalhar e trabalhar para ser feliz só depois. Algo que já fui muito adepto nas épocas de faculdade e nos primeiros meses de formado, mas que hoje não faz qualquer sentido para mim.

Para ser mais exato, essa concepção é algo que abandonei no dia 12 de março de 2016. Nesse dia chovia bastante e eu estava indo para BH participar de uma prova de corrida de 10 km quando meu carro aquaplanou na curva, rodou, atravessou desgovernado as duas faixas no sentido contrário, bateu na contenção do outro lado da curva e capotou 3 ou 4 vezes. Foi uma experiência única, pois fiquei consciente o tempo inteiro, vendo as coisas acontecerem. Na ocasião, meu carro estava novo, eu estava em uma velocidade média, com segurança, tinha feito revisão não havia nem 1 mês e os pneus estavam em excelente condição. Enfim, todas as circunstâncias que dependiam de mim estavam totalmente controladas, mas mesmo assim o improvável aconteceu.

E você consegue imaginar algo mais improvável do que um avião cair por falta de combustível? Estou me referindo ao acidente que tragicamente vitimou os atletas da Chapecoense e tantas outras pessoas. À medida que fui me informando do que aconteceu, cada vez mais a situação do meu acidente e os aprendizados que eu tive à partir dele foram se tornando mais fortes na memória. A constatação que cheguei na época fez mais sentido ainda: não temos controle de nada!

Não temos controle sobre quais as repercussões as nossas ações de hoje podem ter. Não sabemos se nossas escolhas de hoje podem se revelar como péssimas opções no futuro ou se nossa derrota de hoje pode representar uma vitória no dia de amanhã. E, principalmente, considerando essa vida como apenas uma pequena e rápida existência, não sabemos nem até quando estaremos aqui.

Fato é que nos dias atuais temos vivido no estilo workaholic. Posso dizer isso com muita propriedade, pois na medicina é muito comum essa loucura, ainda mais considerando-se o retorno financeiro que pode ser gerado com os intermináveis plantões de 24h, 36h, 48h e ocasionalmente 60h ou até mesmo 72h. Para você ter uma noção, no início do ano eu trabalhava em 6 lugares e cheguei a trabalhar 52 horas seguidas com alguns momentos de sono intercalados. Ao ler isso você deve ter pensado: "6 lugares???!". No entanto, te convido a fazer uma breve reflexão e análise sobre sua vida e a maior parte das pessoas verá que não está muito diferente disso! Ou seja, estamos nos focando no que eu disse no primeiro parágrafo (trabalho em primeiro lugar e felicidade quando der ou for possível) e esquecendo que podemos estar adiando tanto o momento em que viveremos plenamente a vida que esse momento pode nunca chegar.

A realidade dos fatos é que o único momento que existe é o presente. O passado e suas experiências boas ou ruins, mágoas e sofrimentos, alegrias e conquistas já ficou para trás. O futuro é incerto, embora você possa imaginá-lo a partir de suas escolhas. Mas a única coisa real é o presente. E, como eu disse anteriormente no post sobre a morte, viva o presente intensamente para que quando chegar a sua hora de partir você o faça com tranquilidade, sabendo que foi feliz enquanto esteve aqui e que não foi só mais uma das pessoas que esquecem que essa existência é um momento único. Imagine quantos "bom dia" os atletas da Chape gostariam de ter dado, quantos "eu te amo" eles poderiam ter dito e não o fizeram, quantos sorrisos poderiam ter acontecido naturalmente se não fosse o medo da reprovação dos demais.

Eu poderia me estender mais, mas hoje o tempo é curto e exige mais praticidade. Então, para finalizar fica uma dica. Não seja um velho rabugento que trabalhou a vida inteira para construir um patrimônio e que não possui saúde para usufruir dele, ou um velho solitário que não teve tempo para amigos ou família. Não seja um jovem que teve a vida interrompida cedo e que não teve prazo de ser feliz. Não seja um adulto que não viu seus filhos crescerem pois estava ocupado em demasia. Não seja uma pessoa arrependida. Seja apenas uma pessoa feliz! E agora!


 
 
 

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